sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Vai valer a pena...

Comecei hoje a ler um livro muito interessante de Joaquim Quintino Aires que se intitula "Vai valer a pena". É um livro que fala sobre relações e casamentos, separações e divórcios. À partida pode não parecer um assunto muito apelativo ou cativante mas a mim suscitou-me o interesse, a curiosidade, visto que já passei por um casamento e consequente divórcio e após 4 anos recomecei uma relação a qual parece também estar condenada à separação. Muitas vezes me pergunto se serei eu a culpada. Ao ler o 1° capítulo deste livro vejo-me um pouco reflectida, retratada e, sinto uma certa empatia pelas pessoas que resolveram partilhar as suas vidas íntimas e seus problemas conjugais com o autor. São relatos reais, verídicos, de pessoas verdadeiras em situações reais. Senti a necessidade de, também eu, relatar o meu caso pessoal. Não é novidade nenhuma que, viver a dois é muito difícil. Há quem diga "não é complicado, a gente é que complica" mas acho que não é bem assim. Tenho vários exemplos na família, e não só, em que os casamentos só "funcionam" e duram porque as mulheres se rebaixam, se submetem. É a "melhor" imagem que tenho do casamento, seguida da infidelidade do marido, em que a mulher "aceita" desrespeitando-se a si mesma mais uma vez. Talvez por isso mesmo as minhas relações não funcionem. Devido à imagem que tenho do que é um casamento, uma relação a dois. Talvez eu própria sabote as minhas relações ou talvez seja apenas mais uma "vítima" da vida a dois. A verdade é que eu nunca acreditei no casamento e portanto talvez também em qualquer relação parecida com um casamento. Sempre vi as mulheres à minha volta a chorar, a sofrer por causa dos seus maridos ou namorados. E agora sou e jà fui uma delas. Nunca quis ser igual a nenhuma e sempre me revoltei contra essas situações e no entanto parece que está no meu código genético, no nosso código genético (nós mulheres). Sei que também o facto de entrar numa relação, sem fé no futuro e a crer no seu fim, já é um passo em direcção ao fracasso. Mas sou realmente muito pessimista em relação a relacionamentos amorosos. Não sei porquê mas acho sempre, que um se anula, deixa de existir, cedendo assim poder, superioridade ao outro. Foi o que sempre assisti, as mulheres a "desaparecerem" para eles existirem. Foi sempre essa a sensação que ficou marcada em mim. E posso dizer que lutei e luto muito contra isso, contra o agir dessa mesma forma, mas às vezes olho para mim e acho que também o fiz, faço, a dados momentos da minha vida a dois. Será normal? Os homens também farão esse género de sacrifício? Também se sentirão assim de vez em quando? A minha história será igual a tantas outras e provavelmente nem terá muito interesse, mas irei contá-la na mesma. Engravidei aos 20 anos, muitos sonhos e objectivos ficaram esquecidos ou foram mesmo banidos da minha vida apartir desse momento. Era uma jovem cheia de vontade de viver e não estava preparada para assumir tamanha responsabilidade, mas como a assumi fui obrigada a crescer, e tornei-me uma jovem adulta perdida num mundo que nunca desejei. Casei precisamente no dia em que fiz os 21 anos, um mês após o nascimento da minha filha. Estava apaixonada (ou talvez pensasse que sim) e resolvi fazer a vontade aos meus pais, ao pai da minha filha e à mãe dele. Casei, não por vontade própria mas, pela vontade de outros. Nunca sonhei casar ou sequer ter filhos, não até aos meus tenros 20 anos. Queria ser livre e realizar os meus sonhos. Portanto, muito sinceramente, quando casei pensei logo no divórcio, pensei que aquele meu casamento não duraria muito tempo. Talvez tenha sido esse o meu erro, mas não acredito, porque apesar de ter sido algo que eu não queria, esforcei-me ao máximo para que desse certo. Eu pensava sempre naqueles termos "a nossa pequena grande família", nós os 3. Mas éramos ambos muito imaturos e logo ele começou a demonstrar maior imaturidade que a minha, desejando regressar à sua vida de solteiro, sendo casado e com uma filha. Tentei e lutei várias vezes, mas não antes de me rebaixar a ele de uma forma deplorável, humilhante a qual não gosto sequer de recordar. Mas foi verdade, e muito me magoei e sofri para tentar manter aquele casamento que não valia a pena e que só me destruia a auto-estima. Um relacionamento que me transformou numa sombra, num espectro, num zombie. Era uma relação auto-destrutiva que eu teimava em manter porque tinha assumido essa responsabilidade, esquecendo-me que não era só eu a responsável. Aos poucos fui-me tornando mãe e pai ao mesmo tempo, tentando compensar a minha filha por essa falta. E acredito que fui bem sucedida. Pode-se dizer que fiquei com um trauma, uma forte revolta e ódio contra os homens, contra qualquer tipo de relacionamento mais íntimo. Custou-me a assimilar tudo o que me aconteceu. Porque a tortura psicológica e emocional é muito mais traumática que a física. Felizmente tinha (tenho) a minha filha, alguém a quem me agarrar, o meu porto de abrigo, os braços onde podia repousar. Alguém que me fazia acreditar que o dia de amanhã podia ser melhor. Ao todo estive casada 5 anos, e penso que nem um ano fui feliz. Mas o que se pode esperar de um casamento por obrigação?!? Após o divórcio, senti a necessidade de fazer um género de luto pessoal, tinha de tentar enterrar o passado e sofri muito sózinha. Doia muito por dentro, parecia ter uma ferida aberta no peito que teimava em não fechar, sentia um buraco, um vazio tão imenso, tão forte e doloroso. Parecia que nunca mais me iria curar. Hoje sei que nunca nos curamos dessas feridas e que as cicatrizes duram toda a vida. Depois, um dia, acordei, mais "feliz", leve, aliviada. Livre. E sem dúvida, tive os melhores momentos da minha vida, os mais felizes e divertidos. Parecia que tinha renascido. A dor estava lá, mas eu conseguia ignorá-la, contorná-la. Por vezes até me esquecia que ela existia. E percebi que precisei de passar por aquilo para crescer e para dar mais valor à minha vida, para tornar mais real e verdadeira. E naqueles momentos de sofrimento redescobri amigos e descobri novas amizades também. E a todos eles agradeço por terem estado do meu lado, pela força que me deram, pelas gargalhadas que me provocaram, pelas palavras de apoio que me disseram. Renasci e vivi. Finalmente comecei a viver, a viver de verdade, como à muito não vivia. E assim se passaram 4 anos. Mas o ser humano não consegue estar só por muito tempo e comecei a sentir a necessidade de ter alguém de novo ao meu lado. Eu evitava esses pensamentos, ignorava os sinais, mas percebia que o meu coração desejava amar alguém de novo. Eu não queria, tinha medo de que tudo voltasse a acontecer, por isso fugia, tinha relacionamentos fugazes. Dizia para mim e para quem quisesse ouvir, que o meu compromisso é com a minha filha e esse é o único amor que dura até que a morte nos separe, o verdadeiro amor incondicional. E acreditava, acredito nisso. Mas a vontade de voltar a ter alguém era mais forte e um dia conheci esse alguém. Juro que tentei fugir, mas algo me empurrava para ele. Várias vezes tentei acabar com aquela situação mas a paixão começou a dominar-me, foi mais forte que eu. E engraçado, porque o meu interesse por ele foi devido ao seu interesse por mim. Como lhe disse um dia "eu apaixonei-me pela tua paixão por mim", essa era a verdade. Mas deixou de ser. E um dia descobri que afinal gostava mais eu dele que ele de mim. Doi quando percebemos que não somos amados da mesma forma. Magoa muito descobrir que não somos tão importantes para aquela pessoa como ela é para nós. Parece que vamos a cair em queda livre, e pior, sem pára-quedas. Mais uma vez senti-me traída e humilhada. Enganada. Só de pensar tudo o que ele fez por mim um dia, e o que eu também fiz por ele, e hoje não sei o que somos, quem somos, se somos alguma coisa. A tristeza preenche quase todos os meus dias. De novo, me sinto rebaixada, inútil, sem valor. De vez em quando consigo fingir que estou bem, que não me sinto triste e fingindo quase que acredito, mas depois tenho uma recaída e vejo que continuo descontente, continuo a ser mal-amada e que deveria lutar pela minha felicidade em vez de ver a vida a passar-me ao lado. Já o fiz uma vez, porque não repetir? Mas não percebo o porquê de voltar a passar por uma situação destas. Será que mereço? Será culpa minha? Será para eu aprender algo que ainda não consegui ver ou atingir? Ele era tão maravilhoso! Fez-me acreditar que desta vez seria diferente, que desta vez ia valer a pena. Que tínhamos o direito a ser felizes e que poderíamos sê-lo juntos. Mas cedo começámos a chocar um com o outro, os nossos feitios eram, são tão incompatíveis. Temos perspectivas diferentes das mesmas coisas, o que seria interessante discutir sem discussão. Mas somos incapazes disso. Somos adversários, não companheiros. Já não apreciamos a companhia um do outro. Ele "procura" alternativas a mim, eu não procuro nada, só quero estar só. Não sei para onde foi toda aquela paixão ou aquele amor (existiu amor?). Não sei o que realmente aconteceu, mas talvez tenhamos apenas acordado daquele sonho bom e aberto os olhos para a realidade. E a realidade é que estamos infelizes, somos infelizes juntos. A nossa relação deixou de existir, não evoluiu, não cresceu. Parece que é algo que acontece com toda a gente. E alguns sobrevivem, outros não. Nós vamos tentando, mas sinto que quem mais se esforça sou eu. Mais uma vez eu. No que estarei eu a errar? Não faço a mínima ideia. Só sei que mais uma vez me magoei e talvez nem valha a pena...