sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sou eu o pássaro... sou eu a mulher!

"Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto no céu, alegrar quem o observasse.
Um dia, uma mulher viu este pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou: "Vou montar uma armadilha. A próxima vez que o pássaro surgir, ele nao mais partirá";
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paixão, e ela mostrava para suas amigas, que comentavam: "Mas você é uma pessoa que tem tudo". Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava conquistá-lo, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido de sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio - e a mulher já não prestava mais atenção nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava de sua gaiola.
Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e vivia pensando nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater em sua porta. "Por que você veio?", perguntou à morte.
"Para que você possa voar de novo com ele nos céus", a morte respondeu. "Se o tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais; entretanto, agora você precisa de mim para pode encontrá-lo de novo".
Paulo Coelho in "Onze Minutos"

O quanto dói amar...

"Enquanto achares que tens razão..." dizes-me tu. Depois de tudo o que me fizeste e disseste. Depois das mentiras e traição, ainda pensas tu que tens razão? Como é possível que te tenhas transformado neste estranho, neste homem que não conheço? Magoaste e humilhaste-me, mas ainda assim esperas que eu te perdoe mesmo sem me pedires perdão. Onde está o homem por quem me apaixonei, o homem que eu amei um dia? Dizes que por minha causa mudaste, mas se tu mudaste por minha causa, eu por ti me anulei. Desapareci. Não consigo mais acreditar em ti. A vida contigo tem sido um campo de batalha, sem vencedores nem vencidos. Lutamos um contra o outro, quando deveríamos lutar lado a lado. Já não somos um casal, fingimos ser. Porquê? Não sei. Não temos nada que nos una, nada a que possamos chamar nosso. Já não temos nada em comum. Nem sonhos, desejos, projectos ou objectivos. Vivemos esta vida juntos mas tão separados. Então porque nos (me) custa tanto separarmo-nos de verdade? O amor que sinto por ti, por si só, não chega. Não resiste à tua indiferença, à tua ausência. Não sobrevive. Porque me culpas tanto, se tens também a tua culpa? Será que é mais fácil para ti fazê-lo, para quando cada um de nós seguir o seu caminho? Não te iludas. Tu sabes onde erraste. Eu sei onde errei (e erro). Por tanto te amar, tentei, juro que tentei, esquecer, ignorar a dor e o sofrimento que me causavas. Mas continuaste a causar e eu não resisti mais aos golpes que desferias na minha alma. O veneno que hoje me corre nas veias e me faz reagir tão mal a ti, vem do meu coração ferido, trespassado pelo teu desinteresse e desrespeito por mim. Que querias mais que eu fizesse por ti? É impossível esta vida a dois, uma vida a dois que não existe mais. É insuportável ver o quanto nos afastámos e que nada, nada fazes para nos reaproximar-mos outra vez. Dizias que eu era egoísta, mas afinal o egoísta és tu. Dizes que não és um objecto, mas quem se sente um objecto sou eu. Porque invertes sempre a situação a teu favor de forma a que pareça sempre eu a culpada? És assim tão cobarde que não saibas assumir os teus defeitos? Eu reconheço os meus, e por isso agi decentemente enquanto tu a seduzias, enquanto me manipulavas. Tudo o que aconteceu, antes e depois, foi devido ao meu feitio ter reagido ao teu (e vice-versa). Portanto a culpa é de ambos. Competimos um com o outro em vez de nos apoiarmos mutuamente. Foi uma guerra onde ambos perdemos. Nenhum de nós ganhou alguma coisa, a não ser mágoa e pesar no coração. Tenho pena, mas não vejo qualquer cura ou solução. Meu amor, o quanto dói amar...