segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O sábio Kahlil Gibran

Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor uma prisão:
Que seja antes um mar em movimento entre as margens das vossas almas.
Que um encha a taça do outro, mas sem beber pela mesma taça.
Dai um ao outro o vosso pão, mas sem comer o mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos e alegrai-vos, mas que cada um de vós seja um,
como as cordas de uma lira que, embora isoladas, vibram ao som de uma mesma melodia.
Entregai os vossos corações, mas sem que um se feche sobre o outro.
Pois só a mão da vida pode conter os vossos corações.
E mantede-vos juntos, mas não demasiado perto um do outro:
pois os pilares do templo elevam-se à distância,
e o carvalho e o cipestre não crescem à sombra um do outro.

Quando o amor vos chamar, segui-o,
mesmo que os seus caminhos sejam íngremes e penosos.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos a ele,
ainda que a espada dissimulada nas suas penas vos possa ferir.
E quando ele vos falar, crede nele,
embora a sua voz possa estilhaçar os vossos sonhos como o vento do norte devasta o jardim.
Pois assim como o amor vos coroa, também vos crucifica. E, tal como serve para o vosso crescimento, também serve para a vossa decadência.
E como ele se ergue até às vossas copas e acaricia os vossos mais tenros ramos que esvoaçam ao Sol, também às vossas raízes ele desce e as sacudirá no seu apego à terra.
O amor fará todas essas coisas de vós, para que possais conhecer os segredos do vosso coração e vos tornardes, através desse mesmo conhecimento, um fragmento do coração da vida.
Mas se, no vosso temor, procurardes no amor apenas paz e prazer,
faríeis melhor se ocultásseis a vossa nudez e saísseis do amor,
para o mundo sem razão, onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e chorareis, mas não com todas as vossas lágrimas.
O amor dá-se apenas a si mesmo e nada recebe se não de si próprio.
O amor não possui nem quer ser possuído.
Porque o amor se basta do amor.
E não penseis que sois vós quem orienta o rumo do amor, pois, se vos achar dignos, será o amor que conduzirá o vosso caminho.

Lenda dos índios Sioux

Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez chegaram até à tenda do velho bruxo da tribo, de mão na mão, Touro Bravo, o mais valente e honrado dos jovens guerreiros, e Nuvem Azul, filha do cacique e uma das mais formosas mulheres da tribo...
-Amamo-nos... - começou o jovem.
-E vamo-nos casar... - disse ela -e queremo-nos tanto que temos medo...queremos um feitiço, um conjuro ou um talismã...algo que nos garanta que podemos estar sempre juntos...que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrar a Morte.
-Por favor... - repetiram -há algo que possamos fazer?
O velho olhou-os e emocionou-se ao vê-los tão jovens...tão enamorados...e tão ansiosos esperando as suas palavras...
-Há algo... - disse o velho -mas não sei...é uma tarefa muito difícil e sacrificada...
-Nuvem Azul... - disse o bruxo -vês o monte ao norte da nossa aldeia? Deves escalá-lo só e sem armas para além de uma rede e tuas mãos...deverás caçar o falcão mais formoso e vigoroso do monte...se o apanhas, deves trazê-lo aqui com vida ao 3° dia após a lua cheia...compreendeste?
-E tu, Touro Bravo... - continuou o bruxo -deverás escalar a montanha do trono...quando chegares lá acima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e só com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la sem a ferir e trazê-la ante mim, viva...no mesmo dia em que virá Nuvem Azul...
-Saiam agora!
Os jovens abraçaram-se com ternura e logo partiram para cumprir esta missão encomendada...ela para norte e ele para sul.
No dia estabelecido frente à tenda do bruxo, os jovens esperavam com as bolsas que continham as aves solicitadas.
O velho pediu-lhes que com muito cuidado, as tirassem das bolsas...eram exemplares verdadeiramente formosos...
-E agora, que faremos... - perguntou o jovem -matamo-los e bebemos a honra de seu sangue?
-Não. - disse o velho bruxo.
-Cozinhamo-los e comeremos o valor de sua carne? - propôs a jovem.
-Não... - repetiu o velho bruxo -farão o que vos digo: segurem as aves e atem-nas entre si pelas patas com estas tiras de couro...quando estiverem atadas, soltem-nas e que voem livres...
O guerreiro e a jovem fizeram o que se lhes pedia e soltaram os pássaros...a águia e o falcão tentaram levantar voo mas só conseguiram rebolar pelo solo. Uns minutos depois, irritados por sua incapacidade, as aves começaram a picar-se e a ferir-se...
-ESTE É O CONJURO:
Jamais esqueçam o que viram...são voçês como a águia e o falcão...se se atam um ao outro, ainda que o façam por amor, não só viverão se arrastando...como para além disso, mais tarde ou mais cedo, começarão a ferir-se um ao outro... Se querem que o vosso amor perdure... "VOEM JUNTOS...MAS JAMAIS ATADOS."

domingo, 19 de dezembro de 2010

O que é a vida sem amor? E o que é a vida com amor? Ambas são vidas de sofrimento. Conheço bem as duas, acho que todos nós já as conhecemos. Sem amor uma pessoa vive perdida, vazia. Sente-se um vazio imenso por dentro que não se consegue explicar, mas que doi, que magoa. Vive-se infeliz, incompleta. Mas com amor as sensações são as mesmas, de intensidades diferentes. O amor é pura e simplesmente uma fonte de sofrimento devido à sua ausência ou sua existência. É controverso, é contraditório. Quem ama deveria ser feliz, porque dizem que o amor é um bom sentimento. Então, porque nos causa tanta dor? Porque nos desfigura a alma? Porque nos sentimos envenenados, sufocados por esse sentimento a que chamam amor? Ele existe para nos tornar mais ou menos felizes? As pessoas mudam quando amam. No início mostram o melhor de si mesmas, mas depois com o avançar do tempo, soltam os seus monstros e fantasmas. E é aí que o amor começa a doer. A fazer sofrer. É difícil amar e ser amado. É difícil não ser amado da mesma forma que se ama. É difícil amar e não ser retribuído. Todos nós já passámos por isso e no entanto, continuamos a correr atrás do amor acreditando que um dia iremos ser felizes (para) sempre. E a felicidade são apenas momentos que o amor, por vezes, nos dá. E nós podemos encontrar a felicidade até mesmo na solidão, até mesmo na tristeza. Porque muitas vezes num momento de tristeza ganhamos forças para lutar pela felicidade. E a felicidade pode ser tanta coisa. Não precisa sequer de amor. Amar é sofrer de alma e coração. É tentar ser feliz consigo mesmo e com outro alguém . Mas será isso possível? Porque será então que não acredito? Voltar a amar terá sido um erro. Porque me permiti a tal? Acreditei que finalmente tinha encontrado a minha "alma-gémea", o homem que me completaria, aquela pessoa por quem valia a pena lutar e que lutaria sempre a meu lado. Afinal foi apenas uma ilusão. Como gostamos tanto de nos iludir! A dado momento, vi-me sózinha, abandonada, despojada de tudo o que eu era, de tudo o que era eu. De novo perdida, em busca de mim mesma. Para onde fui? Onde estarei? Mais uma vez amei, mais uma vez me perdi, acreditando que me tinha encontrado em ti.